(ANÁLISE) Livro - O Médico e o Monstro
- Wenberger Figueiredo
- Apr 23, 2024
- 2 min read

"O Médico e o Monstro", uma obra clássica escrita por Robert Louis Stevenson em 1886, oferece uma rica tapeçaria de dilemas éticos, especialmente pertinentes às discussões contemporâneas em bioética. O romance explora a dualidade do bem e do mal dentro de um único indivíduo, o respeitável Dr. Jekyll e seu alter ego maligno, Mr. Hyde. Através da transformação de Jekyll em Hyde, Stevenson tece complexas questões éticas sobre responsabilidade, identidade, e a natureza da moralidade humana.
"Se cada um de nós tivesse uma consciência dupla, não haveria homem que fosse bom o suficiente para escapar do mal."
Essa citação reflete sobre a natureza complexa do ser humano e a inevitável luta interna entre o bem e o mal, ressaltando a importância de considerar as múltiplas facetas da natureza humana ao lidar com dilemas éticos na medicina e na pesquisa.

Dilemas Éticos no Livro "O Médico e o Monstro"
1. Experimentação Humana:
Dr. Jekyll se envolve em autoexperimentação ao consumir uma poção química que ele próprio cria. Esta ação levanta questões éticas significativas sobre a experimentação em humanos, incluindo os riscos, o consentimento informado e as potenciais consequências devastadoras. No contexto moderno, tais experimentos seriam rigorosamente controlados por comitês de ética, questionando a ética de se colocar em risco por ciência ou curiosidade pessoal.
2. Responsabilidade Moral:
O romance questiona até que ponto uma pessoa pode ser responsável pelos atos de sua outra personalidade. Como Mr. Hyde, Dr. Jekyll comete crimes sem sentir remorso, levantando dilemas sobre culpabilidade e responsabilidade moral. Isso é particularmente relevante na bioética quando consideramos condições que afetam o julgamento e o comportamento de uma pessoa, como doenças mentais ou influências de substâncias.
3. Dualidade da Natureza Humana:
A transformação de Jekyll em Hyde simboliza a luta interna entre o bem e o mal, uma dualidade ética que todos enfrentam. Na medicina, essa dualidade pode ser vista na luta entre fazer o bem ao paciente e, ao mesmo tempo, evitar causar dano, encapsulando o princípio ético da não maleficência versus beneficência.
4. O Uso de Poder e Conhecimento:
Dr. Jekyll usa seu conhecimento e habilidades para transcender as normas éticas e morais, refletindo sobre como os profissionais de saúde podem, potencialmente, abusar de seu poder. A bioética moderna enfatiza a importância da humildade científica e da responsabilidade ao aplicar o conhecimento médico.
5. Segredo e Isolamento:
O segredo que Dr. Jekyll mantém sobre suas transformações destaca os temas de isolamento e desonestidade. Na prática médica, a transparência e a honestidade são cruciais para a confiança entre médico e paciente, reforçando a necessidade de integridade e abertura.
Conclusão
"O Médico e o Monstro" de Stevenson, apesar de ser uma obra de ficção e fantasia, projeta luz sobre questões éticas profundas que são incrivelmente relevantes no campo da medicina e da bioética. Ele desafia o leitor a refletir sobre até que ponto a ciência pode ir sem comprometer os princípios morais, e como até mesmo as intenções mais nobres podem ser corrompidas quando desprovidas de considerações éticas apropriadas.
Assim, o livro permanece um estudo valioso para aqueles interessados em ética, fornecendo um cenário para a exploração de como lidar com a eterna batalha entre os desejos pessoais e a moralidade coletiva.
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